Com grande reconhecimento no mercado, centenária e primeira escola pública de teatro do Brasil. Esses são os títulos da Escola Técnica Estadual de Teatro (ETET) Martins Pena, que nesse mês de julho forma mais uma turma, com direito a apresentações gratuitas da peça musical “Cabaré Navalha – Uma Ópera de Vinténs”, uma crítica à burguesia com 11 músicas que foi apresentada no Teatro Armando Costa, no Centro do Rio.

Com adaptação de uma peça de Bertolt Brecht, a “Ópera dos 3 Vinténs” (1928), a apresentação teatral tem duas horas de duração e serve como trabalho de conclusão de curso. O cabaré dos alunos será decadente, no centro da marginalidade carioca, com figuras populares de todos os cantos do Brasil e que narrará a saga do patrono Mac Navalha. A trama é permeada por trambiques e mostrará a sujeira de uma burguesia em declínio que insiste em se manter de pé. O local das apresentações tem o formato de teatro de arena ou espaço total, quando público e atores ficam no mesmo ambiente e podem até interagir.

“A peça é a conclusão do curso e todo semestre uma turma se forma. As novas turmas passarão três semestres aqui e no último período sempre tem a montagem de um espetáculo, com eles escolhendo uma peça. Em dois meses e meio, a gente consegue montar o espetáculo de formatura, com a qualidade e competência que a Martins Pena sempre consegue produzir”, afirma a professora de interpretação, Alessandra Carvalho.

Fazem parte desse trabalho de conclusão do curso Técnico em Arte Dramática 17 alunos, um recorde na Martins Pena que compõe o quadro das unidades de ensino da Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro (Faetec), ligada à Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação. A admissão é feita através de um concurso público, em formato de Teste de Habilidade Específica (THE) e tem duração total de 1.600 horas distribuídas em dois anos, com aulas de segunda a sábado. E essa turma, que se intitula “Etapa Chique” (cada uma escolhe um nome para se identificar ao se formar), ainda poderia ter mais uma formada, que precisou trancar matrícula por estar atuando no mercado de trabalho atualmente. Kênia Bárbara atuou em “Amor Perfeito”, da TV Globo com a personagem Lucília e na série “Os Outros”, da Globoplay, no papel da Joana.

A pernambucana Sémada Rodrigues, 35 anos, começou a carreira artística em 1990, com três anos, e na dança em 1999, com 12 anos e em 2007 chegou ao Rio já como atriz, bailarina, coreógrafa, preparadora corporal e diretora de movimentos. Em 2019 conseguiu ingressar na Martins Pena.

“O teatro e as artes dramáticas sempre estiveram envolvidos na minha vida. Conhecia a Martins Pena por ser a maior escola, a mais antiga da América Latina e pública. Quando resolvi entrar, consegui, pois o THE é suado, mas todas as deusas me ajudaram para eu aqui estar.  Eu sonho em continuar vivendo das artes. Pós Martins Pena, com o peso que vai ter no currículo ser formada aqui, eu sei que possibilidades virão”.

O mineiro Ramon da Matta, 34 anos, é advogado desde 2013 e veio para o Rio em 2016 para tentar a carreira artística. Dez anos depois da primeira formação, o ator termina o curso na Martins Pena, e conta que a busca e a determinação pela segunda especialização foi uma homenagem aos pais, que eram contadores de história na cidade mineira de Vera Cruz.

“Meus pais como contadores de história me moldaram como artista. Eu bebi da arte deles, vim para o Rio, conheci a Martins Pena a partir de festivais e só dava Martins por onde eu ia. Eu tentei por seis anos entrar na Martins Pena e nunca passei para segunda etapa. Numa vez, me deram a chance de chegar nessa segunda fase e acabei passando em primeiro lugar. Meu maior sonho é minha emancipação artística e, mesmo não atuando, mas podendo viver de qualquer coisa na arte, eu já estarei feliz”.

Conhecida carinhosamente apenas como “Martins”, a ETET Martins Pena fica na Rua Vinte de Abril, no Centro do Rio, e conta com grande histórico de atuação na cultura brasileira. Por lá passaram grandes artistas, de Procópio Ferreira a José Wilker, e muito mais. E essa história e aprendizado devem servir de força motriz para todos que estudam e passam pela Martins. A professora de interpretação reforça que os alunos devem se sentir orgulhosos ao concluir o curso Técnico em Arte Dramática.

“Eu sempre falo que para mim o mais importante é que eles tenham orgulho do que fizeram. Eu sou atriz e sei o quanto é ruim você fazer uma coisa do qual não se orgulha, que gostaria que ninguém visse. É a culminância desses dois anos de aprendizado com uma pandemia no meio, o que foi muito difícil. Que tenham prazer e se divirtam”, finaliza Alessandra Carvalho.