Uma ideia na cabeça vira a solução de grandes problemas nas mãos de estudantes da Faetec

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Por Vanessa Campanario

 

Alunos criam ferramentas que solucionam problemas de segurança, transporte e serviço

 Eles poderiam só cumprir a carga horária exigida de aula e concluir o curso técnico de forma regular, mas optaram por dedicar 12 horas do seu dia para criar soluções para problemas cotidianos. São estudantes da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec) que desenvolveram dispositivos para prevenir explosão em bueiros, auxiliar deficientes visuais no uso do transporte público e controlar gastos do orçamento familiar.

Aos 17 anos, Rafael Carrilho criou um dispositivo que monitora câmaras subterrâneas. O aparelho identifica vazamentos de gás natural e aumento de temperatura acima do recomendado no interior das redes. O experimento tem por objetivo evitar explosões de bueiros e acidentes causados por arremessos de tampas.

Inicialmente, o projeto visava a atender áreas residenciais, tendo como ponto de partida o acidente ocorrido num Conjunto Habitacional, em Fazenda Botafogo, em abril de 2016, que ocasionou a morte de cinco pessoas e deixou nove feridas. Com o avançar da pesquisa, concluiu que era possível ampliar a cobertura de monitoramento por grandes câmaras subterrâneas e tentar impedir qualquer risco de explosão.

O dispositivo ainda é um protótipo, composto por dois sensores que funcionam de maneira bem simples: o primeiro mede a presença de gás inflamável, enquanto que o segundo sensor monitora o aumento de temperatura. Ambos são acoplados a um microcontrolador e a um módulo GSM, instalado nas câmaras subterrâneas.

 

Foto: Felipe Corrêa

– Em caso de concentração de gás ou de a temperatura atingir nível considerado perigoso, uma mensagem de texto constando o endereço do incidente é enviada para os celulares das autoridades responsáveis. Ao receber o aviso, o órgão terá tempo para evacuar a área de risco e providenciar os reparos necessários em seus equipamentos – explica Rafael.

Este projeto será apresentado na Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia (Mostratec), promovida de 23 a 29 de outubro na cidade de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul. O estudante será o único representante da Rede Pública de Ensino Técnico do Rio de Janeiro dentre mais de 400 ideias selecionadas em todo o mundo.

Economia Familiar e Mobilidade Urbana também são desafios para os alunos

Fazer compras no supermercado nesta crise não é uma tarefa fácil, e às vezes a conta final ultrapassa o planejado. Pensando em como uma família poderia controlar seus próprios gastos, os alunos Daniel de Andrade, Karine Maria Moreira e Renan Florentino construíram um registrador de compras acoplado ao carrinho de supermercado.

A ideia é que o consumidor saiba quanto custa cada produto e possa controlar o valor total da compra, antes mesmo de chegar ao caixa do supermercado. Para isso, será instalada uma central de dados com o registro de todos os produtos e seus respectivos valores, no estabelecimento, e um dispositivo, com leitor de código de barra, conectado ao carrinho para fazer a leitura dos itens escolhidos.

– A ferramenta é viável economicamente para as redes de varejo, além de ser uma tendência de marketing para as companhias que trabalham com a transparência. Hoje, os consumidores procuram por marcas mais humanizadas, e as empresas que oferecem esse tipo de serviço são consideradas pelos clientes como honestas – destaca Renan Florentino.

 

 

O projeto dos estudantes Gabriel Peres e Paulo Roberto Athayde também não fica para trás em termos de inovação. Os jovens desenvolveram um sistema que consiste em ajudar deficientes visuais no uso de transporte público por meio da tecnologia assistiva.

– Antes de desenvolver o projeto, a minha única certeza era a de que eu precisava ajudar as pessoas. Foi quando pensei nos casos de auxílio a idosos e deficientes na rua, e percebi que seria fundamental criar um recurso para mobilidade urbana, tornando-os independentes no que se refere à locomoção pela cidade – aposta o estudante Gabriel Peres.

O aparelho se baseia em dois transceptores: um deles instalado dentro do ônibus e o outro, por meio de um teclado matricial, de uso do passageiro deficiente. Ao digitar o número do ônibus desejado em seu dispositivo, este emite um sinal na distância de 200 metros. Já o transceptor instalado no ônibus, que estiver no alcance do sinal, recebe o alerta e avisa ao motorista de que há um deficiente visual esperando pelo transporte. No ponto de parada solicitado, mais um alerta indica a presença da condução ao usuário.

Todos os projetos foram desenvolvidos na Escola Técnica Estadual Henrique Lage, em Niterói, e são frutos da Oficina de Projetos, coordenada pelo professor Altair Martins dos Santos, que incentiva os alunos a criarem, a partir do conhecimento adquirido nas aulas, soluções para problemas do dia a dia.

– São 12 horas de dedicação para desenvolver esses projetos. Não é a bolsa que estimula esses jovens, porque dinheiro é o mínimo. O conhecimento e a bagagem que eles vão levar para fora é o mais importante – garante Altair Martins dos Santos, coordenador do curso de Eletrônica.