Faetec realiza curso de Língua Portuguesa e Cultura Brasileira para Refugiados e Migrantes

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Falar bem o português, terminar a educação básica, aprender mecânica industrial e se graduar em agronomia. Essa trajetória profissional pode parecer comum e acessível a qualquer cidadão brasileiro, mas para o haitiano Bermane Jeudy é um sonho e a esperança de uma vida melhor.

 

– Deixei família, amigos, namorada, tudo, no meu país em busca de estudo e emprego. No começo, tive muita dificuldade em me comunicar, mas, hoje, tenho trabalho e onde morar. Do que ganho, envio boa parte do salário à minha mãe para ajudar na criação dos meus irmãos. Mas eu quero mais. Quero falar tão bem o português ao ponto de ser confundido com brasileiro – brinca, Bermane, que, apesar de viver no Brasil há quase quatro anos, ainda encontra desafios para se estabelecer.

 

 

O estudante Bermane Jeudy sonha com uma vida melhor no Brasil

Foto: Felipe Corrêa

O haitiano, de 28 anos, é aluno da primeira turma de Língua Portuguesa e Cultura Brasileira para Refugiados e Migrantes, promovida pela Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), instituição vinculada à Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia, Inovação e Desenvolvimento Social (SECTIDS). O curso começou no último mês e está sendo realizado em uma unidade da Rede em São Gonçalo.

 

São 21 estudantes imigrantes aprendendo a expressar escrita e oralmente a língua portuguesa, a comunicar-se no idioma brasileiro em situações adversas e a compreender aspectos sociais e históricos da cultura do país. Para atender a estrangeiros com pouco ou nenhum conhecimento do português, estão sendo utilizados materiais lúdico-pedagógico, como música e jogos.

 

Há nove meses, a nova moradia de Widelyne Senat, 25 anos, fica no bairro Amendoeira, em São Gonçalo. Ela é mais uma haitiana que busca uma vida digna no Brasil, com mais segurança e oportunidade. Para garantir este futuro, deixou para trás marido e filho.

 

 – A saudade é grande, mas eu precisava vir. Aqui, a igreja, os amigos e vizinhos ajudam com tudo. Já consegui emprego num salão de cabelo afro e quero melhorar de vida para trazer meu filho. Estou muito feliz com o povo brasileiro por me receberem tão bem – conta Widelyane que prefere não comentar sobre os motivos que a levaram a sair de sua terra natal. 

 

A haitiana Widelyne Senat mora em São Gonçalo há nove meses

 

A turma é formada por haitianos

 

O curso tem 60 horas, com duração de 10 semanas, e as aulas são sempre às terças e quintas, das 13h às 15h30. A seleção de alunos foi feita por meio da Secretaria de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos (SEDHMI). Os requisitos para ingresso exigiam ser cidadão estrangeiro, ensino fundamental incompleto e ter idade mínima de 15 anos.

 

– É um projeto que há tempo gostaríamos de promover porque nunca realizamos esse tipo de formação. Está sendo um desafio, mas estamos aprendendo juntos. Além de apresentar um pouco mais da língua portuguesa, o curso tem como propósito mostrar que a Rede tem vários cursos e está de portas abertas para quem quiser aprender uma profissão. Espero que mais pessoas nos procurem para se qualificar – destaca Marta Gomes, diretora de Formação Inicial e Continuada da Fundação.

 

O curso é destinado a qualquer migrante e refugiado. No entanto, curiosamente, a primeira turma foi formada apenas por haitianos. Eles representam 6,97% das 33.865 solicitações de refúgio feitas em 2017 no Brasil, de acordo com o Ministério da Justiça. Os maiores registros são de venezuelanos (57,75%), seguidos pelos cubanos (7.01%).

 

– Estudei muito sobre o Haiti antes de aceitar esse desafio e fiz questão de preparar uma aula em que os imigrantes se sentissem à vontade. A língua é uma identidade. Por isso, tenho a preocupação em não desmerecer o idioma deles, mas passar a importância do nosso vocabulário para que possam se absorvido pelo mercado de trabalho – explica Deisimar Barcellos, professora da turma.

 

Primeira turma do curso de Língua Portuguesa e Cultura Brasileira para Refugiados e Migrantes