Alunos da Faetec Cidade de Deus participam de projeto pela Consciência Negra

 

Antecipando as discussões que permeiam o mês de novembro, palestras, rodas de conversa e oficinas voltadas para a promoção do letramento racial e práticas antirracistas, estão acontecendo na Faetec Cidade de Deus desde o mês de setembro. Ações se estenderão até novembro.

Pensar e discutir ações que possam refletir em práticas educacionais antirracistas é uma prática recorrente nas Faetec e, na Cidade de Deus, professores dos diferentes cursos oferecidos pela unidade vêm, nos últimos dois meses, realizando atividades que promovem o letramento racial entre alunos, colaboradores e a comunidade em geral.

Idealizado pela professora Magn Silva , o “Projeto Consciência Negra - Minha Negritude, Eu Abraço” teve início em setembro e, desde então, os alunos da unidade participaram de palestras voltadas para autoestima, gastronomia, saúde e saberes ancestrais, além de empreendedorismo e empoderamento.

“A ideia vem ao longo dos anos como uma boa semente, a partir da minha vivência como menina e mulher preta - atravessada por muitos destroços e alvo de muitos episódios racistas e de violência, simbólica inclusive. A semente germinou e venho me sentindo motivada e impulsionada a construir práticas para contribuir na formação das crianças e jovens negras/os, na conscientização das pessoas negras e não negras para ações cotidianas antirracistas. Durante o lockdown, devido à pandemia do Covid-19, eu tive a oportunidade de participar do curso de Introdução à Teologia e à Filosofia Afrocentrada, ministrada pelo Professor Jayro Pereira de Jesus. Esse meu novo entendimento me fez ver que o pior do racismo é nós não nos reconhecermos como negros em Diáspora, desconhecermos sobre os mecanismos que nos oprimem e não temos acesso à nossa própria história, nem a referências que nos inspirem, nos motivem e nos potencializem. Por isso, insistir num projeto como esse é de fundamental papel na prática docente em favor do Letramento Racial e Engajamento Antirracista”, diz a docente.

Entre as ações realizadas no mês de outubro, uma palestra no segmento da gastronomia apresentou a riqueza da culinária africana pela ótica de quem trouxe suas heranças para o Brasil. Aluno da professora Danielle Gomes, no curso de Culinária Inclusiva, o congolês Rikler Sekelembe falou um pouco das experiências que o levaram a montar o Chez Kimberly, um empreendimento especializado em culinária africana. Em sua palestra, o cheff apresentou o Makabu, prato típico daquele país que foi adaptado por Hickler e passou a incorporar o cardápio do delivery.

“Muitos alunos que participaram da palestra estavam completamente inspirados pela história do Hickler, que é uma história de inspiração, é uma história de um refugiado que chegou no Brasil sem muita perspectiva. Começou a procurar pessoas que cozinhavam também, outros refugiados, e começou a agitar todo um movimento em torno da comida africana. Hoje em dia ele é uma pessoa que faz muitos eventos, viaja pelo Brasil inteiro, então ele contou essa história de superação. Acho que, para os alunos da Faetec, conhecerem uma história como essa é um espelho, é uma inspiração. É dizer para eles que é possível, que você se qualificar e estudar, você consegue realizar seus sonhos através disso. Trazer pessoas que têm histórias como a do Hickler traz esse senso de pertencimento, de superação, de inspiração, de mostrar para eles que eles podem ir onde que eles quiserem, eles podem chegar muito longe”, diz Danielle.

Também na última semana, os estudantes participaram da palestra “Dialogia e vivência sobre as trancistas e sua arte”. A ação é parte do projeto “Experiências Ancestrálicas Construindo Saberes e Práticas Antirracistas” , que já está em seu quarto encontro. Nele, os participantes debateram temas como a importância da trança como expressão de autoestima preta e manifestação artística, além do papel da trancista como mantenedora do saber ancestral.

“Nesta atividade nós tivemos a presença de sete mulheres  trancistas, que estão atrás da sua luta todos os dias e merecem todo o valor e reconhecimento. Alcinéia Amâncio, Natália Quinquino, Ana Paula Flauzino, Luana Santos, Márcia Lopes, Daiana Santos, e Soraya França - Soll, que é uma de nossas alunas”, comentou Magna.

A organizadora do evento também pontuou momentos importantes do projeto.

“Desde a abertura deste projeto, tivemos grandes alegrias, a primeira delas foi a presença do professor Jayro Pereira, considerado por muitos e muitas de nós como um Ancestral Vivo das Periferias, engajado no Letramento de crianças e jovens das Periferias em âmbito nacional. Ele coordena um projeto de implantação das Casas Ubuntu - de Germinação e Fertilização Muntu que objetiva se nacionalizar em todo território. Ele vive na Bahia e tê-lo em nossa unidade foi extremamente importante. Outro ponto que preciso destacar foi a presença da artista Iris Bernardino, uma jovem negra periférica. A sensibilidade dela, com telas discursivas, que em cada detalhe e título, já são aulas sobre Letramento Racial. Ela foi a responsável pela peça de divulgação do evento; uma tela para presentear. Por fim, ressaltar  a presença das famílias de cada aluna/o que está participando com protagonismo em cada dia de evento, sem exceção. Isso tem muito da Filosofia Ubuntu, da dimensão da Circularidade Afroancestrálica do "SOU PORQUE SOMOS".

O projeto segue ao longo do mês de novembro, quando a unidade realizará o encerramento das ações com a Feira Cultural e Dialogia Híbrida Com Teleconferência.