Dubladores visitam Feira de Ciências da Faetec
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- Publicado em Segunda, 22 Setembro 2025 19:14
Selma Lopes e Alexandre Maguolo - dubladores de personagens famosos como Marge Simpson-, foram fonte de inspiração de aluno do 3º ano do Ensino Médio no desenvolvimento de pesquisa sobre o uso da inteligência artificial em contraponto com o trabalho humano no segmento
Os debates sobre o uso da inteligência artificial em diferentes setores deram base para que Pietro Luigi, aluno do 3º ano do Ensino Médio da Escola Técnica Estadual República aprofundasse a pesquisa “A voz humana importa: os desafios da dublagem humana diante do uso da IA”. O trabalho, exposto na edição 2025 da Feira de Ciências, levou informação e muitas curiosidades sobre o ofício da dublagem.
“O que me motivou a realizar este projeto foi o amor que eu tenho pela profissão dos dubladores brasileiros. Em relação a tudo que ela nos proporciona, a gente cresce ouvindo a dublagem, e o trabalho tem por objetivo mostrar os detalhes para que ela não seja robótica com o uso da inteligência artificial”, diz Pietro Luigi, que sonha em ser dublador profissional.
Para embasar a pesquisa, o estudante mergulhou na história de profissionais que se destacaram na profissão, além de estudar as técnicas usadas desde a década de 1950 até os dias de hoje.
“ A primeira obra dublada na história do Brasil foi ‘Branca de Neve e os Sete Anões’ em 1938, com Dalva de Oliveira interpretando a personagem principal. Naquela época, os filmes estrangeiros eram legendados, algo pouco acessível por conta do alto índice de analfabetismo. Essa realidade só começou a mudar na década de 1960, quando o então presidente Jânio Quadros assinou um decreto determinando que todas as produções estrangeiras exibidas na televisão fossem dubladas. Essa medida fez com que o mercado de dublagem crescesse dando origem a diversos estúdios de dublagem como o Herbert Richer, o Cine Lab e o Gravasom, possibilitando que o processo de dublagem evoluísse muito”, conta o aluno.
Os avanços tecnológicos tornaram possível, por exemplo, a gravação individual dos profissionais e a segmentação da cena para que, em caso de erro, não fosse necessário refazer todo o processo. Hoje, esta mesma tecnologia, produz uma série de questionamentos éticos sobre os limites de seu uso no processo de dublagem. No que se refere à IA especificamente, ao mesmo tempo em que essa tecnologia otimiza os processos de dublagem, tornando as produções mais rápidas e com menor custo e maior distribuição global, é importante refletir sobre os impactos do seu uso ilimitado nessa área e as implicações éticas e legais.
Pietro conversou ainda, com dubladores como Selma Freitas, uma das mais respeitadas profissionais do segmento, responsável por dar voz a personagens emblemáticos como Marge Simpson, Vovó Willow, Ligeirinho, Mama Odie, além de ser a voz de Whoopi Goldberg, nas produções cinematográficas. A dubladora visitou a Feira de Ciências junto com Alexandre Maguolo, para conferir o resultado da pesquisa de Pietro, que vem sendo orientado pela professora Michele de Souza, que leciona espanhol e é coordenadora do Núcleo de Ensino de Línguas da Escola Técnica Estadual República ( NEL/ETER), que aponta a seriedade e importância da pesquisa do aluno.
“O trabalho do Pietro teve como propósito promover uma reflexão sobre o uso inadequado, que fere questões éticas, legais e de qualidade técnica, o que acaba por contribuir para a precarização do trabalho dos profissionais dessa área. Ele ressalta o quanto a tecnologia contribuiu para a evolução da dublagem, mas chama a atenção para os usos inadequados que tem sido feito dessa ferramenta no cenário da dublagem mundial, como a reprodução de vozes de profissionais sem a sua devida autorização, a perda de qualidade técnica das produções e a precarização do trabalho dos profissionais da dublagem”, dia a docente.
Para seguir protegendo o ofício dos mais de 3 mil profissionais que atuam no Brasil do uso indevido da IA, projetos de Lei como como o 4041/2025, que dispõe sobre a proteção da atividade de dublagem no Brasil, estabelecem regras para contratação de profissionais e empresas nacionais e regulamenta o uso de inteligência artificial na dublagem. Desenvolvido pela ADDC- Associação de Dubladores Dário de Castro o projeto pode ser acessado no Portal da Câmara dos Deputados https://share.google/K2NPZ3IO5qjXSsagT.
Presidente da Fundação de Apoio à Escola Técnica, Alexandre Valle falou sobre a Feira anual, ressaltando a qualidade dos projetos apresentados durante os dois dias de evento.
“É muito gratificante para todos nós ver como nossos alunos estão antenados com tudo o que acontece no mundo. Estamos discutindo inteligência artificial, sustentabilidade, meio ambiente, entre outros temas pertinentes para a construção de uma sociedade melhor e a presença do público é sempre muito importante para incentivá-los a buscar ferramentas que possam contribuir para isso”, diz Valle.
Vinculada à Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, a Faetec conta com 126 unidades distribuídas em todo o Estado do Rio de Janeiro, que atende alunos desde a Educação Infantil ao Ensino Superior.