Escola Técnica Estadual Oscar Tenório promove Feira Literária com debates e apresentações de peças teatrais

Com o objetivo de transformar literatura em arte, a Feira Literária da Escola Técnica Estadual Oscar Tenório, conhecida como FLOT, aconteceu na última semana, em Marechal Hermes, na Zona Norte do Rio. A unidade escolar da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec) contou com a presença de alunos, professores, autores e convidados.

Durante todo o dia, foram diversas apresentações de peças teatrais, exposições de trabalhos e palestras. Nesse ano, o tema da Feira Literária foi: “O livro e a literatura na atualidade”. Com esse tema, o evento teve início com o recital e a apresentação de um poema sobre a violência contra a mulher.

Em seguida, o auditório da unidade ficou lotado para a interpretação de teatro e dança sobre o livro “Carmilla”, escrito por Sheridan Le Fanu. A obra é considerada um clássico, e inspirou o autor Bram Stoker a escrever o livro Drácula. A história se passa na Inglaterra vitoriana, e conta a relação entre uma jovem e uma vampira.

Logo em seguida, no mesmo local teve a encenação da peça “Sonhos de uma noite de verão”, de William Shakespeare. Ao final, os alunos se dirigiram para a área externa da escola para prestigiarem a adaptação da obra Iracema, de José de Alencar. Publicada em 1865, a história se inicia com o guerreiro branco Martim Soares Moreno se perdendo nas matas e sendo encontrado por Iracema, filha do pajé Araquém.

Durante toda a manhã, era um vai e vem de alunos, professores e convidados entre o auditório, salas de aula e o espaço do jardim, todos queriam aproveitar cada minuto da Feira Literária. Com o auditório cheio, foi a vez dos alunos do 1º ano do curso Técnico de Informática apresentarem o musical “Que país é este?” inspirado na canção da banda Legião Urbana.

Para o professor de Geografia, Joel Marques de Moraes, que atua há mais de 30 anos na unidade, a possibilidade de novos recursos, como a música, ajuda no entendimento de toda a matéria estudada.

“A proposta com a turma foi justamente analisar a letra da música com as questões socioeconômicas do Brasil que abarcam os problemas sociais das metrópoles brasileiras, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Os alunos fizeram uma comparação entre os problemas sociais da década de 1980 que vai até 1990, e da década de 2010 a 2020. Envolvendo as questões políticas, econômicas e a violência no país”, ressalta o professor Joel Marques de Moraes.

“A música da Legião Urbana retrata bem o que acontece até hoje, a música foi escrita nos anos 80, e até hoje é atual falando das desigualdades, da política e tudo mais. Eu acho super importante fazer esse projeto, estou muito orgulhosa. Claro que fiquei bastante nervosa, mas adorei”, afirma a aluna Ana Júlia Prudente, de 15 anos, que está cursando o 1º ano do curso Técnico de Informática.

No final da manhã, uma das peças mais aguardadas era da turma do 3º ano do curso Técnico em Administração, do professor de Literatura Alexandre Guimarães. Intitulada “CDD, o sagrado e o profano” foi inspirada na música do MC Koringa “Dança para me provocar”.

O início da apresentação contou com o vídeo do próprio músico, MC Koringa, parabenizando os alunos pela escolha da música e da celebração da arte dentro das favelas. A apresentação atingiu a capacidade máxima do auditório e contou com alunos na janela para assistir a peça inspirada na arte, dança e cultura.

“A gente tenta explorar o desejo deles de se manifestar. Eles ficam o tempo todo dentro de sala e tem essa vontade de se expressar artisticamente, ter voz, e a gente só incentiva isso. E eles fazem essas obras maravilhosas! Além de ser muito importante mostrar a comunidade de uma forma diferente. O Rio de Janeiro tem essa visão sempre negativa e a gente sabe que na verdade tem muito de arte, cultura, música e poesia dentro das comunidades que precisam ser ouvidas”, revela o professor Alexandre Guimarães.

Muito elogiada pela atuação da personagem principal, a aluna do 3º ano do curso Técnico em Administração, Laíla Dionizio, de 18 anos, comemora todo o esforço realizado.

“Meu sonho é ser atriz, eu amo atuar, estar no palco, e saber que tenho esse talento é muito bom. Eu estava lá criando o roteiro, as falas da minha personagem, isso me deixa muito feliz porque como se tivesse valido a pena todo o nosso esforço, nosso cansaço. E valeu a pena”, destaca emocionada a aluna Laíla Dionizio, que pretende seguir na Faetec, e realizar o vestibular na centenária Escola de Teatro Martins Pena.

Além do auditório da unidade, diversas salas de aula viraram espaços teatrais para os alunos. No período da tarde, os alunos do 1º ano do curso Técnico de Informática, coordenados pelos professores Renato de Alcantara e Erika Molini encenaram o conto “Di Lixão” do livro “Olhos d’água”, da premiada autora Conceição Evaristo.

O conto conta a história de um menino de 15 anos que mora em um quarto-marquise e tinha como apelido Di Lixão por viver pelas ruas chutando os latões de lixo.

Com a mesma idade, o aluno Davi Miguel da Silva, interpretou o personagem principal, o Di Lixão. Ele revelou que tem como sonho conhecer pessoalmente a autora da obra, Conceição Evaristo. “Para mim, a Conceição Evaristo é uma das maiores escritoras do nosso Brasil”, destaca o aluno Davi Miguel da Silva.

Bastante celebrado, o professor de Literatura, Renato de Alcantara, comemorou o resultado da apresentação.

“Eu confiei nos alunos, eles escolheram e leram o conto 'Di Lixão'. Ofereceram para a escolha um conto e um poema da autora Conceição Evaristo. Conversamos sobre o conto e começaram a pensar na interpretação. O mais legal de tudo isso é que foi bem corrido, e a gente conseguiu concluir o trabalho em praticamente 20 dias e ficou incrível. Eles são bons!”, celebra o professor Renato de Alcantara.

Nesse ano, a FLOT contou ainda com palestras das escritoras e pesquisadoras, Verena Alberti e Alexandra Tsallis; além de rodas de conversa com o poeta Luiz Antônio Andrade e com o escritor Heraldo HB.

Feira Literária faz 12 anos

A Feira Literária da Oscar Tenório (FLOT) existe desde de 2012, gerando integração entre alunos, professores e autores.

“O nosso objetivo é divulgar a arte, a literatura, a importância do livro e da leitura para todos os estudantes desde a primeira série até a terceira do Ensino Médio Integrado. E o mais importante de tudo é ver como os nossos alunos da Rede Faetec têm maturidade e conseguem transcender a leitura para uma peça de teatral, uma encenação. Eles dão aula”, destaca a gestora da unidade, Elaine Souza da Silva.