Alunos da Faetec debatem sobre racismo com o diretor Lázaro Ramos, em Botafogo



A manhã do último dia 13 de maio transcendeu o que é transmitido nos bancos da Escola Técnica Estadual Adolpho Bloch (ETEAB), unidade vinculada à Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec). Isso porque um grupo de alunos foi assistir ao filme “Medida Provisória” e debater com o ator e diretor da película, Lázaro Ramos. No próximo dia 25/05, haverá outra sessão de cinema com os demais alunos. A iniciativa foi idealizada pela premiada professora de História, Janete Santos Ribeiro, e realizada pelo Núcleo de Estudo Afro-Brasileiros (NEAB-Sankofa) da escola.

O evento, que aconteceu no NET Estação Botafogo, é fruto de parceria entre a ETEAB e o produtor cultural, Cavi Borges, responsável por abrir o espaço NET às escolas públicas, tendo como escopo retratar a luta por liberdade e cidadania, resgatando o protagonismo do negro na sociedade, e entender a dimensão e a persistência do racismo no tecido social. Além disso, a ideia também era homenagear Lima Barreto, aniversariante do dia, como um dos grandes combatentes da população marginalizada e que faz parte da formação escolar dos estudantes do 3º ano.

Para Janete, o filme dialoga com o esforço do NEAB e outras iniciativas da escola de enfrentamento ao racismo institucional em todas as instâncias, além de auxiliar os jovens a se posicionarem quanto às questões raciais.

“Esse filme tem tudo a ver para trabalhar na escola. Além disso, é preciso mostrar para os nossos jovens o papel relevante que o negro tem na sociedade. Eles estão felizes. Esse evento é para levantar a autoestima dos alunos. Acredito que estamos num bom caminho de uma construção coletiva. Com 30 anos de experiência na causa, encontrar esse “aquilombamento” na minha escola é visceral, potência e pura inspiração para transformar não apenas um grupo de alunos ou professores, mas inspirar toda a Rede para esse movimento antirracista”, disse Janete, que tem como meta oferecer uma feijoada e comida típicas em comemoração ao dia da África, dia 25.

O objetivo do evento foi proporcionar novas perspectivas na autoestima dos jovens, como da estudante do curso Técnico de Publicidade, Isabel Nascimento Petitinga, 15 anos, e moradora em Piedade que, mesmo emocionada, conseguiu disfarçar o nervosismo e foi para o debate com o diretor.

“Acho que a conversa que eu e minhas colegas tivemos com o Lázaro trouxe o real significado da comunicação, que é cativar. Pra mim, nossa conversa não só cativou, mas transformou a minha vida, e tenho certeza que a de todos os estudantes que escutaram também. Senti-me muito honrada de estar ao lado dele, que é uma referência pra mim! Saí do cinema orgulhosa de mim mesma e determinada a buscar cada vez mais cultura e arte do meu povo, minha ancestralidade e passar isso adiante pra que possa cativar ainda mais pessoas”, disse Isabel emocionada.

Já para Taíssa Brito, 17, moradora de São Gonçalo, e que cursa Produção de Áudio e Vídeo, o evento serviu como inspiração para continuar a acreditar que tudo é possível. Ela agradece a oportunidade por participar de um momento tão importante. E reproduz para a reportagem seu texto gravado numa rede social

“Obrigada, Lázaro, por me dar esperança e desejo de continuar. Obrigada por reerguer os meus sonhos, por me dar um gás pra lutar. Obrigada por me ajudar a encontrar a minha autoestima, a reconhecer a minha capacidade e inteligência, a reconhecer o meu talento e tudo aquilo que ainda vou conquistar. Você é incrível, você é maravilhoso e sou muito feliz por ter tido uma troca, apesar de pequena com você. Sua arte me toca de uma maneira que vai muito além desse plano terreno, ela toca a minha ancestralidade. Sou eternamente grata por quem você é!.”

O evento contou com 237 pessoas entre estudantes e profissionais. Além de Lázaro Ramos, participaram do debate: Filó Filho (cultne), e da pesquisadora Kelly Santos.



O Filme

O filme trata de uma suposta “reparação” pelo passado escravocrata do governo brasileiro que institui uma Medida Provisória com instantânea anuência do Congresso Nacional. Essa medida obriga os cidadãos negros a se mudar para a África na intenção de retomar as suas origens. A aprovação afeta diretamente a vida do casal formado pela médica Capitú e pelo advogado Antonio, além de seu primo, o jornalista André, que mora com eles no mesmo apartamento.

A medida provisória, que desejava devolver os negros à África, foi tema de relatório eugenista do representante do governo, o médico João Baptista de Lacerda, no Congresso Internacional das Raças no começo do século XX.

A próxima exibição, para atender outra parte dos alunos, está marcada para o dia 25/05, às 9h. Assim como o dia 13 de maio, data da Abolição da Escravatura, o dia 25 se comemora o Dia da África. A data refere-se ao dia em que 32 chefes de estado africanos reuniram-se em Addis Abeba, Etiópia, em 1963. Encontro que teve como objetivo, defender e emancipar o continente africano, libertando-o do colonialismo e do apartheid.