Alunos da Faetec Martins Pena vencem Festival de cinema

Quando a gira girou, o teatro João Caetano, no Centro do Rio, veio abaixo e descortinou-se uma geração de talentosos jovens atores estudantes da Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Pena (ETETMP), no Centro do Rio.  A unidade faz parte da Rede Faetec e vem pedindo passagem nas artes cênicas do Rio de Janeiro. A Escola, única dessa categoria autorizada a participar de um festival universitário, conseguiu emplacar quatro grupos na final e conquistar dois dos principais prêmios e sete no individual no último 12º Festival de Teatro Universitário (Festu), acontecido em julho. O destaque ficou para “Menina, Mojubá”, vencedora de melhor esquete do Festival encenada pelo Grupo Mojubá. O prêmio do Júri Popular ficou com o grupo Zero e Uns.

  O esquete, modalidade de apresentação de até 15 minutos, com texto de Marcela Treze, uma niteroiense do Fonseca, de 22 anos, Menina, “Mojubá” (uma saudação na língua iorubá, que significa: apresento meu humilde respeito) contou a história de uma menina criada num cabaré com todas as dificuldades que o mundo impôs até desencarnar e se transmutar num ser de luz em forma de pomba-gira que protege e guarda os humanos em situação de rua. Marcela conta que a ideia era humanizar essa entidade que está mais próxima de todos nós do que podemos imaginar.

  “A história da ‘Menina, Mojubá’ é parecida com tantas outras meninas que vivem nas ruas, à mercê da violência, do descaso. Todos os dias nós encontramos essas situações e nem percebemos. Então essas entidades, como as pombas-gira, estão perto de nós protegendo dos perigos e emboscadas que as ruas trazem”, disse Marcela, aluna da primeira etapa do curso.

 Ela conta da emoção, quando no último dia do Festival, foi anunciada a esquete como a grande vencedora.

 “Faço teatro desde os 13 anos, já viajei com apresentações, mas esse momento foi diferente. Quando nos apresentamos no segundo dia, já havia um burburinho sobre a nossa peça. Mas levar o grande prêmio foi algo indescritível. Uma ideia que tive a partir de um sonho e escrita num celular. Senti que essa mensagem deveria ser dita. Eu nunca estive sozinha. Apresentei aos meus colegas que abraçaram de imediato a ideia. Foi um mês de ensaio quase todos os dias, estou em êxtase”, vibrou Marcela, vencedora no prêmio de melhor atriz.

 

Também componente do grupo vencedor, Junio Nascimento, 25, que largou o distrito de Raposo, interior do Rio, para estudar na Faetec Martins Pena, falou da emoção dessa conquista.

“É indescritível. Sentir a energia da plateia após a apresentação. A reação do público após a nossa apresentação, ver que todo o esforço foi recompensado, foi fantástico”, disse Junior.

Para Victor Braga, 26, morador do Rio Comprido, passou da hora de expor temas como os da ‘Menina, Mojubá’. Um grito contra o preconceito e intolerância religiosa.

“Quando Marcela (Treze) trouxe o texto, imediatamente achamos necessário encenar. E o público comprou a ideia. Conseguimos passar em dez minutos a história de uma menina, que teve uma infância difícil até se tornar um ser que nos auxilia e protege no nosso dia a dia” afirmou Victor, vencedor no prêmio de melhor iluminação, junto com Gabriel Gama, e melhor figurino com Michael Alves, 25.

Se não bastasse o grande prêmio, os alunos da secular Martins Pena também conquistaram a simpatia do público e venceram na categoria do júri popular com o esquete do Grupo Zero e Uns.  A trama se passa dentro de um trem quando um artista de rua, tão comuns nos transportes cariocas, encontra um camelô e se dá o conflito de quem pode ou não atuar naquele espaço. Uma realidade que o integrante do grupo, Pedro Fonseca, 23, conhece muito bem, já que é morador de São João de Meriti, na Baixada Fluminense.

“Essa é a minha realidade, assim como de muitas pessoas que precisam do transporte público, o homem periférico. Apenas colocamos essa realidade no palco. Estamos muito contentes, tudo aconteceu muito rápido. Foi um esforço gigante. Ser vencedor num dos maiores festivais do país nos enche de orgulho, afinal, nossa escola conquistou os dois principais prêmios”, disse Pedro, vencedor como melhor texto original.

Já o aluno Diego Cintra foi o vencedor na categoria de Melhor Direção de Movimento no esquete “Crepúsculo das Máscaras”

O Festival acontece anualmente e, neste ano, reuniu 18 grupos competidores. Esse foi o primeiro na forma presencial pós-pandemia e premiou com 30 mil reais o vencedor, que agora terá o compromisso de investir o prêmio num espetáculo. O que, de acordo com Marcela Treze, já está sendo providenciado.

“O que temos de certeza é que vamos aumentar o cenário e contratar outra atriz, mas por enquanto é sigilo absoluto”, disse a misteriosa estudante que ousou sonhar.

 

Os premiados:

Victor Braga, Junio Nascimento e Rel Rocha - Melhor iluminação;

Gabriel Gama - Melhor Direção;

Marcela Treze - Melhor Atriz;

Pedro Fonseca - Melhor Texto Original;

Diego Cintra - Melhor Direção de Movimento.