Professores da Faetec reforçam ações em torno da educação antirracista

A Diretoria de Desenvolvimento da Educação da instituição vem trabalhando na articulação do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros, ações afirmativas e políticas voltadas para a garantia de equidade na educação. Essas são apenas algumas das ações desenvolvidas pelos docentes de diferentes unidades da Fundação de Apoio à Escola Técnica
 


O mês de novembro é especialmente lembrado por celebrar a luta e as conquistas da população preta por meio do Dia da Consciência Negra. Em 2023, além de marcar os 20 anos da Lei 10639, que inclui a obrigatoriedade do ensino de história e cultura africanas e afro-brasileiras no currículo, reitera o esforço de educadores na luta pela equidade na educação e o combate ao racismo estrutural. 
 
Por meio de ações plurais, que vão desde palestras a projetos que envolvem alunos de diferentes etnias, os docentes da Fundação de Apoio à Escola Técnica (FAETEC) incutem práticas antirracistas que começam pela Diretoria de Desenvolvimento da Educação (DDE), que terá um núcleo de gerenciamento de relações étnico raciais, articulando os NEAB (Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros) das escolas, promovendo formação e acompanhando o currículo escolar. Lilian do Carmo, que atua na supervisão educacional desde 2011, já vem desenvolvendo este trabalho com palestras internas nas unidades da rede, visando à consolidação e à prática desses estudos, considerando a necessidade de acompanhar essas ações mais de perto. 
 

Supervisora Educacional Lilian do Carmo

 

“A Faetec foi uma das primeiras instituições a ter núcleos de estudos para as relações étnico-raciais, antes mesmo do surgimento da oficialização dos Neabs. Quando eu cheguei aqui em 2011, comecei a discutir projetos, juntamente com a professora Helena Theodoro, para implementar esses núcleos nas unidades que até hoje, por conta da atuação dos docentes, militam pela aplicabilidade da Lei 10.639, consolidando essas práticas dentro das escolas”, diz a Doutora em Educação. 
 
Dentro deste processo de (in)formação para os docentes, Lilian prega um trabalho forte de educação pedagógica que vai além da sala de aula, incluindo as pautas ligadas ao racismo institucional. Nesta jornada, o professor de informática Alexandre do Nascimento, lotado na Escola Técnica Estadual Oscar Tenório (FAETEC), é um dos autores do livro “Educação das relações raciais no Ensino Básico, Técnico e Tecnológico: Estudos, Reflexões e Ações de Docentes”.  Doutor em Serviço Social, Alexandre é um dos coordenadores do Grupo de Pesquisas e Extensão de Estudos Afro-brasileiros ONDJANGO. O grupo oportuniza diálogos sobre o movimento negro, ações afirmativas e educação. Discussões sobre temáticas raciais são pertinentes ao meio acadêmico, pois mudanças podem ser geradas a partir do diálogo.
 
“Acredito que podemos promover uma transformação social antirracista, transformação de percepções a respeito de pessoas negras, assim como cultura negra e religiosidade negra, que fazem parte da cultura brasileira. Fazemos grandes esforços com cursos, publicações e pesquisas para mostrar a pertinência do assunto e oferecer reflexões e conteúdos para educadores desenvolverem isso nas escolas”, declarou o docente.
 
Cláudia da Cruz, de 53 anos, atua na Escola Técnica Estadual República e está na rede desde 1996, antes mesmo da unidade de ensino fazer parte da FAETEC. Orientadora da instituição na formação Técnica em Produção de Moda (CTPM), ela desenvolve dentro do curso uma pesquisa voltada para a construção de um currículo antirracista, focada nas relações étnico-raciais na formação de futuros profissionais técnicos. A pesquisa teve início em unho e rendeu um trabalho premiado no 18° Colóquio de Moda em setembro, com o tema Relações Étnico-Raciais e a Construção de um Currículo Decolonial e Antirracista.

 

Professora Cláudia Cruz

 
“Trazer esse tema para ser debatido em sala está rendendo frutos, como propostas para projetos importantes como o samba, tema do projeto final dos alunos concluintes, e “os cria” tema da disciplina de laboratório de criação relacionado ao universo do funk e das favelas. A moda tradicionalmente é vista como uma área elitizada, de muito glamour, marcas de luxo e presente nas grandes capitais da moda (Milão, Paris, Londres e Nova Iorque). Trazer a questão racial para esse universo traz representatividade para o nosso corpo docente, majoritariamente afrodescendentes, e os conecta com questões cada vez mais atuais, como a diversidade”, conclui Cláudia.
 
A questão antirracista sempre esteve presente na vida profissional da Cláudia que, junto com mais dois professores e uma supervisora escolar, organiza frequentemente rodas de conversa com profissionais negros que se destacam em sua área de atuação. Os alunos debatem sobre as dificuldades enfrentadas para se formarem, ingressarem no mercado de trabalho e situações que envolvem preconceito racial.
 
De dentro para fora, as ações desenvolvidas pelos educadores são de conscientização de docentes e estudantes sobre o que é racismo, por que ele precisa estar no currículo e de que maneira ele precisa ser trabalhado dentro da grade curricular, como o que é realizado pela professora Janete Ribeiro. Aos 60 anos, 23 deles dedicados à FAETEC, Janete é uma grande incentivadora para que os alunos possam produzir cada vez mais conteúdos voltados ao combate ao racismo. Ao lecionar História, ela adota as experiências dentro e fora da escola como meio para uma educação antirracista cada vez mais eficaz. Segundo a docente, é a vivência que faz com que o olhar dos alunos seja ampliado e repercute em ações e projetos criados por eles mesmos a partir destas “aulas práticas”. 

 

Professora Janete Ribeiro


“Este semestre estamos nos reunindo para a leitura do livro Um Defeito de Cor, que também é enredo da Portela. A partir dos estudos da grade curricular, mergulhamos na literatura preta, visitamos exposições, museus, para levar para a escola estas experiências. Em outubro, por exemplo, fizemos um roteiro pela Pequena África com professores de outras disciplinas e alunos da Escola Técnica Estadual Adolpho Bloch (FAETEC), que resultou em cards educativos desenvolvidos por eles”, diz ela. 
 
Tais práticas geraram um perfil no instagram @histeteab para registrar a produção dos alunos e as atividades realizadas a partir destes encontros liderados pela professora. Nesta grande rede que vai se formando, o surgimento do Pod das Pretas, comandado por alunas da ETEAB, vem se transformando em uma importante ferramenta dentro da escola para o combate ao racismo.
 
Vera Lopes, de 70 anos, professora de Dança na Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Pena (FAETEC), se formou na Escola de Danças Clássicas – Maria Olenewa/Theatro Municipal e em grupos de dança moderna e contemporânea na cidade do Rio de Janeiro. Os estudos em Teatro aconteceram na instituição FEFIERJ e a licenciatura em Educação Física.
 
Na escola, a professora junto com o diretor Marcelo Reis, aprofundou o problema da questão racial, desenvolvendo um trabalho chamado “Vozes – escovando a história a contrapelo”, que ajuda os alunos a entenderem melhor o corpo através da mescla da performance cênica do teatro e da dança, tendo como base a linguagem da dança afro-contemporânea somada ao teatro, ao canto, à capoeira e às manifestações populares, discorrendo, assim, sobre temas ligados à diáspora africana. O movimento e a dança dos intérpretes ganharam novos significados quando estes viviam a experiência da integração de gesto, ação, movimento, voz e emoção em seus corpos.

 

 Professora Vera Lopes


“Nosso interesse é apresentar esse projeto poético - político para espaços culturais, universidades públicas, particulares, e toda a rede institucional onde haja interesse em refletir sobre os processos racializados em nosso país. Acreditamos que a itinerância desse produto cultural entre diferentes esferas educacionais e institucionais possa contribuir como uma metodologia integrativa sobre o tema”, ressalta a professora.