Ex-aluno da FAETEC Henrique Lage se destaca como velejador e conquista título mundial para o Brasil

Até a adolescência, a ligação de Samuel Gonçalves com o mar se limitava as idas à praia com a família. Hoje, aos 28 anos, o oceano não tem limites para o velejador, atual campeão do mundo na tradicional Classe Star, título conquistado em novembro, ao lado de medalhista olímpico Lars Grael. Morador do Fonseca, em Niterói, Samuel sempre estudou em escola pública e descobriu o esporte em 2001, por meio do Projeto Grael, instituição voltada para a cidadania e a inclusão social de jovens.

A paixão pela vela o levou a cursar Máquinas Navais na FAETEC – ETE Henrique Lage, onde também aprendeu inglês, língua da qual é fluente. Formado em Desenho Industrial pela UERJ, ele é exemplo de como o horizonte pode se ampliar para quem se dedica aos estudos e abraça as oportunidades que se apresentam ao longo do caminho.

Para Samuel, que sequer havia visto um barco de perto, a chance de tornar-se velejador surgiu quando cursava a antiga 5ª série, durante palestra de instrutores do Projeto Grael na escola onde estudava. Logo na primeira aula prática, em um pequeno optimist (modalidade voltada para iniciantes), o menino se apaixonou pelo esporte e resolveu que sua vida profissional seria ligada ao mar e à natureza.

Em 2002, apareceu o primeiro convite para competir, quando o pai de uma professora do Projeto buscava tripulantes para correr a Regata Tacarijú Thomé de Paula, promovida no Iate Clube Jardim Guanabara, na Ilha do Governador, Rio de Janeiro. Logo na estreia, veio o terceiro lugar. Com o bom resultado, surgiu a proposta de atuar como monitor em um curso de vela e ele passou a ser requisitado para integrar novas equipes em diferentes classes.

– Fiquei interessado em tudo o que flutuava e tinha uma vela. O iatismo é um esporte que, geralmente, se precisa de dinheiro, força física e conhecimento técnico. Como não tinha o primeiro, entrei para a academia de ginástica e passei a pesquisar muito, a ler tudo o que era possível sobre o assunto – conta Samuel.

O passo seguinte foi fazer o curso técnico de Máquinas Navais, onde a experiência como velejador e o conhecimentos teórico adquirido na escola se complementavam.

– Mesmo os barcos à vela possuem motor e entender o seu funcionamento pode ser bastante útil. Ao mesmo tempo, levava para a sala de aula o olhar de quem tem contato direto com o mundo náutico. Não foi fácil e eu me dividia entre a prática de esporte e os estudos. Por isso, prestava muita atenção às aulas, perguntava bastante e apenas revisava os conteúdos em casa – revela.

Em 2011, foi convidado a participar da Cape to Rio, regata realizada desde 1971, que cobre 3.400 milhas (em linha reta) entre a Cidade do Cabo, na África do Sul, e a capital carioca. Depois de 17 dias no mar, a equipe formada por quatro alunos do Projeto Grael e três sul-africanos chegou em primeiro, feito inédito para um barco com tripulação brazuca.

Samuel conta que o domínio de inglês, adquirido durante as aulas do curso de idiomas da FAETEC, o ajudaram muito a se comunicar com os outros colegas. Naquele mesmo ano, Lars Grael o chamou para velejar ao seu lado na Classe Star. Juntos, conquistaram o bi-campeonato do Bacardi Cup (2014 – 2015), em Miami, e, em novembro deste ano, o mundial da categoria, em Buenos Aires.

– Demorou um ano para "cair a ficha" de que eu estava velejando ao lado do meu ídolo, Lars Grael, duas vezes campeão olímpico. É como fazer uma pós-graduação em vela a cada dia – diz o ex-pupilo e atual parceiro.

Atuando como designer freelancer e na gestão logística de campeonatos de iatismo (vai trabalhar na organização dos Jogos Olímpicos, que, desta vez, não incluem a Classe Star), Samuel está com a agenda cheia para 2016, ao lado de Lars: a dupla tem regatas marcadas para fevereiro, no Rio e, no mês seguinte, em Miami, antes de iniciar a campanha em busca do bi-campeonato mundial, cuja primeira regata será em abril.