Nova peça em cartaz na Escola Técnica Estadual Martins Pena aborda questões existenciais e sociais

 "Game Over ou não tá fácil pra ninguém" fica em cartaz até o dia 20 de julho

 

A vida é um jogo? Essa é a proposta do espetáculo "Game Over ou não tá fácil pra ninguém" do Sete Coletivo composto pelos alunos que estão se formando neste primeiro semestre de 2019 na Escola Técnica de Teatro Martins Pena, unidade da Rede Faetec. A peça está em cartaz na sede da escola, até o dia 20 julho, gratuitamente, de quarta a sexta, às 20h, na Rua Vinte de Abril, nº 14, no Centro do Rio.

Com mais de uma hora de duração, a peça aborda questões existenciais e sociais, como a solidão, afeto, racismo, gordofobia, violência contra a mulher, situação indígena no Brasil, entre outros. Os temas são abordados de forma lúdica, fazendo com que o espectador entre na cena, ou melhor, num jogo interativo e contínuo. A participação do público é a marca principal da peça. "A interação com eles é fundamental e total. As pessoas precisam se mexer. Entrar em contato com si próprio", comenta a atriz Nina Fachinello.

A montagem da peça é realizada de forma pessoal com histórias e experiências dos artistas. Segundo a atriz Bruna Sigmaringa, a peça só havia sentido se falasse de coisas vividas por eles. Nascida em Brasília, a sua participação contou com a narrativa do crime ao índio Galdino Jesus dos Santos, queimado enquanto dormia num ponto de ônibus na principal Avenida da Capital Federal, em 1997. "O Brasil está muito difícil, especialmente para quem é artista. Só havia sentido se falássemos de coisas nossas, mas que reverberem nas outras pessoas. Todas as cenas são políticas, mas queríamos que tivessem afeto e alegria. Porque, nem sempre para falar de coisas sérias, você precisa ser séria. Dá para falar de outras formas", destacou a aluna. 

Em uma das esquetes, a atriz Juliana Torres descreveu a história de uma garota que sofre gordofobia da infância até a vida adulta. Bastante emocionada, Juliana comemora o papel. "Fiz o meu texto sobre gordofobia. Não é todo mundo que entende isso. As pessoas acham que você é gordo porque é preguiçoso. Eu já pesei 140 quilos e sei como é. Fiz a cirurgia bariátrica e hoje estou com 95 quilos. Precisava colocar esse tema na peça e mostrar para o público. Hoje na apresentação vi que uma pessoa ficou bastante emocionada pelo tema, e isso foi muito gratificante", afirmou Juliana. 

Com uma linguagem popular, utilizando memes e funk, o Sete Coletivo é composto pelos atores Anderson Sampaio Martins; Bruna Sigmaringa Seixas; Gilberto Lima; Juliana Torres; Nina Fachinello e Thiago Catarino. Segundo a equipe, a ideia é que o sétimo integrante seja sempre o público.

 

 

A professora e orientadora da montagem, Alessandra Carvalho, descreveu a importância do processo educacional. Foram quatro meses e meio de profundo estudo para a montagem do Game Over. "A gente estudou Augusto Boal, Teatro Imagem, Teatro Jornal, Teatro Fórum. Estudamos também a teoria memética, sobre memes e a viralização de imagens pela internet. A gente trabalhava colocando post its num quadro para construir a montagem. Queríamos que o público fosse junto com a gente. A cada dia essa peça muda. A montagem do espetáculo seria um processo e com o público seria outro", afirmou a professora Alessandra Carvalho.

A professora Alessandra foi bastante aplaudida no final da apresentação. Comemorou mais uma turma de Montagem e descreveu sua trajetória para os presentes. Ela se formou em 1996 na mesma escola, onde atualmente é professora de teatro. Relembrou que ingressou no curso aos 16 anos. "Entrei muito nova para o teatro. Sabia o que eu queria fazer desde o início. Há dois anos eu voltei para ministrar aulas nas disciplinas teóricas na unidade. Depois fui dar aulas de interpretação e montagem". Perguntada sobre os próximos passos, respondeu: "Terminei meu mestrado e comecei agora o doutorado em teatro", comemora animada a docente.

Todos os componentes da peça ressaltaram a importância da Escola de Teatro Martins Pena, unidade pertencente à Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec). A escola é a mais antiga da América Latina com 111 anos formando atores no Brasil. "A Martins Pena é uma escola necessária. É um ato de resistência estar aqui hoje numa peça gratuita e numa escola pública", revelou Nina Fachinello.

O ator Gilberto Lima destacou o sonho de entrar na Martins Pena. "Eu sempre quis fazer Martins. Fiz a prova duas vezes. Não passei na primeira. Quando eu estudava o Ensino Médio de Produção na Faetec de Quintino, eu descobri o curso de Teatro na Martins Pena. Estar aqui é surreal. O mais importante é trabalhar e continuar estudando teatro", afirmou Lima.

A peça contou ainda com a participação especial de Jessica Freitas que é também ex-aluna da Escola Técnica.

 

Fotos de: Geovanni Timbó