Conceição Evaristo participa de evento na Escola técnica Estadual Ferreira Vianna

Escritora vencedora dos principais prêmios da literatura nacional foi homenageada na quinta edição da Ocupação Cultural organizada pelos alunos do Laboratório de Leituras da instituição vinculada à Faetec. Atividade terminou com show da escola de samba mirim Mangueira do Amanhã

Ocupar os espaços e incentivar a criatividade através da leitura é apenas um dos objetivos do Laboratório de Leituras da Escola Técnica Estadual Ferreira Vianna (ETEFV). A instituição, vinculada à Faetec, realizou a quinta edição da Ocupação Cultural, promovendo cultura, arte e literatura por meio de rodas de conversa, sarau, dança e poesia em uma ação organizada pelos alunos da unidade, coordenados pelos professores Ana Ligia Matos, Cláudia Fabiana Cardoso e Patrícia Camargo.

"A Ocupação Cultural já se tornou uma tradição na ETEFV e é um evento importante para nós porque é uma forma de manter a cultura brasileira viva através do ato da leitura. Atualmente temos 12 alunos no projeto, oito deles voluntários e outros quatro bolsistas por conta de uma parceria que temos com o Laboratório da Palavra da UFRJ e, além das professoras de literatura, temos cerca de 15 professores colaboradores", diz Ana Lígia, docente da instituição.

Ao longo de todo o dia, os alunos da ETEFV participaram das atividades que tiveram como tema central a saúde mental, uma proposição dos alunos monitores do Laboratório de Leituras, que tiveram nas obras de Lima Barreto e Bispo do Rosário suas inspirações como forma de discutir e redimensionar a dor. Assunto recorrente em praticamente todas as ações, o racismo foi o protagonista das apresentações dos estudantes cuja média de idade é de 17 anos.

"O Laboratório de Leituras tem como prática a valorização da reflexão e da criatividade do aluno para que ele se torne um cidadão e um profissional sensível às questões que envolvem direitos humanos, identidade, representatividade, igualdade racial. Quando os alunos trazem outros temas, como racismo, preconceito, traduzidos nas suas poesias, é também a forma de falar e redimensionar a sua própria dor, seja ela qual for", diz Ana Ligia.

Inspiração para os alunos e madrinha do projeto cuja sala leva seu nome, Conceição Evaristo prestigiou o evento e falou sobre a importância da leitura na construção do cidadão.

"Quando se pensa em educação, precisamos entender que a maioria desses alunos acessa a leitura na escola e é aqui que ele vai ter a oportunidade da troca, organizando e procurando transformar suas experiências em letras. Este é um direito que esses jovens têm, que todos temos, e uma iniciativa como esta ajuda a construir e potencializar um outro imaginário. Vejo isso como uma grande responsabilidade para com o coletivo, ao representar as mulheres negras, professoras, intelectuais. Exercer esta responsabilidade sobre o que digo e para quem digo me certifica de que estou andando por lugares certos e isto também me potencializa", diz a escritora detentora dos principais prêmios literários do país, e que este ano tornou-se a primeira mulher negra a receber o Prêmio Juca Pato como a intelectual do Ano 2023.

Segundo Ana Ligia, a presença de Conceição Evaristo após 5 anos de lançamento do projeto, traz aos alunos, mais do que conhecimento, mas experiência e possibilidades ". A Conceição Evaristo é hoje a escritora que pensa a leitura como ação, como afeto. A sua história está ligada à educação e nós precisamos cada vez mais escutar pessoas, principalmente públicas, que possam falar sobre a força transformadora do livro", afirma.

Aluna do terceiro ano de telecomunicações, Ana Carolina Alves apresentou dois poemas de sua autoria e falou sobre a presença de uma escritora negra na edição deste ano da Ocupação Cultural.

"Sou poetisa desde os meus 10 anos de idade, e este é meu segundo ano de Ocupação Cultural. Quando comecei no projeto, tinha vergonha de mostrar as minhas poesias e foi através do incentivo das professoras que eu comecei a superar isso, tanto que já me decidi e vou cursar Letras na faculdade. Hoje foi um dia inesquecível porque Conceição Evaristo é minha inspiração para tudo e vê-la na minha escola, participando de um projeto que eu ajudei a criar me emocionou muito", disse a aluna, que exaltou a postura da escola em debater temas como o racismo de forma ampla.

"Geralmente este é um assunto onde não há possibilidade de debate e aqui é diferente, a gente tem uma voz. A saúde mental, a nossa ancestralidade, tudo está muito interligado, porque o preconceito, o racismo mexe muito com a nossa saúde mental. Então, quando a gente vai pra lá pra frente e debate sobre isso, eu me sinto representada porque sou uma mulher preta de periferia", diz Carolina.

Além da roda de conversa e das apresentações de poesia e sarau, o evento contou com roda de capoeira, danças que exaltaram a ancestralidade africana, e a participação especial da escola de samba mirim Mangueira do Amanhã.