Seminário promovido pela Faetec provoca reflexões importantes sobre o capacitismo e o mercado de trabalho para pessoas com deficiência intelectual

Com a presença de profissionais reconhecidos internacionalmente, evento realizado no dia 21 de março debateu funcionalidades, tecnologia e inclusão de pessoas com deficiência intelectual

Celebrado no dia 21 de março, o Dia internacional da Síndrome de Down foi marcado pela realização do Seminário Internacional Funcionalidades, Tecnologia e Inclusão - Diálogos Emergentes na educação profissional e no turismo, evento que aconteceu no Teatro Abdias do Nascimento, na Faetec Quintino, sob organização das professoras mestres Sônia Mendes e Verônica Cruz. O evento reuniu especialistas em diversas áreas de educação para uma reflexão sobre a visão e o paradigma da funcionalidade das pessoas com algum tipo de deficiência intelectual ou Transtorno do Espectro Autista - TEA.

Segundo Caroline Alves, presidente da Faetec, o evento ressaltou a necessidade de mais oportunidades para abordar o tema da inclusão.

“Temos que realizar mais edições deste seminário, para que a gente possa incluir cada vez mais alunos nas nossas escolas. Mais do que tudo, devemos exaltar a vontade dos nossos profissionais em entregar a excelência deste trabalho. Precisamos trazer essas pautas para dentro da educação a todo tempo”, disse a presidente.

“O objetivo foi realmente disseminar a visão e o paradigma da funcionalidade dessas pessoas e outros que fazem parte do grupo das pessoas neuro divergentes através da união das diretorias de educação, educação média, DDE, DSUP, DIF. No evento, tivemos oportunidade de fazer uma abordagem institucional coletiva, fazer com que todos pudessem experienciar a funcionalidade e o protagonismo dessas pessoas, a fim de criar uma mudança de paradigma individual e coletiva”, diz Sônia Mendes, Assessora de Inclusão da Diretoria de Desenvolvimento da Educação Básica e Técnica - DDE.

Ao longo do dia, rodas de conversa que reuniram personagens do cenário educacional nacional e internacional, além de pessoas com deficiência intelectual, deram relato sobre a importância da inclusão e da necessidade de discutir o capacitismo a partir do ambiente familiar.

“Foi enriquecedor ter a presença de professores da rede, de secretarias convidadas, familiares e pessoas com tais especificidades. Além disto, ter a parceria de várias instituições e universidades como Uerj, UFF, Fundec, Sesc, Embratur, só reforça a necessidade de discutir esses temas”, complementa Sônia.

Na parte da manhã, o debate sobre como o Turismo e as Tecnologias em Inovação podem influenciar o mundo em prol da Inclusão, reuniu os especialistas portugueses Prof. Dr. Carlos Costa e Prof. Dra. Filipa Brandão. Mediada pelo Prof. Dr. Carlos Lidizia Soares, coordenador do projeto Turismo, Hospitalidade e Inclusão da UFF, a mesa provocou uma reflexão sobre a necessidade de inclusão tanto sob o ponto de vista do mercado de trabalho como no lazer dentro do segmento do turismo.

Já na parte da tarde, os diálogos em torno das funcionalidades, tecnologias e transformações sociais tiveram participações importantes de educadores como a Profa Dra. Ediclea Mascarenhas Fernandes, da UFF, a Profa. Mestre Katia Machinez e prof. Emmanuel Fraga, representando a Faetec e Fabinho Fernandes, do Instituto Novo Ser e do Projeto Praia para Todos.

Segundo Verônica Cruz, mediadora da última mesa, cujo tema foi Plano de Ensino Individualizado (PEI) e Plano Individual de Transição (PIT): propostas da Educação Infantil ao Ensino Superior, ressalta a importância da adesão de tantos profissionais nesta edição do Seminário. Na mesa, nomes como profa. Dra. Cristina Angelica Mascaro (UERJ), profa. Dra. Ana Cristina de Carvalho (CAEP Favo de Mel/ FAETEC) e profa. Dra. Lucy Almeida e Luciana Campos (NAAPS/ ISERJ).

“Quando eu e Sônia pensamos no Seminário, o objetivo, antes de tudo, foi que os nossos profissionais da Educação Especial e Inclusão da DESUP e DDE (além dos demais da Rede), tivessem oportunidade de ter um dia voltado à troca, pesquisas, mostrar os trabalhos que realizam de forma científica; aprofundamento de estudos com palestrantes internacionais e nacionais; práticas inovadoras dentro da Funcionalidade, Tecnologia e Inclusão, além do mais importante: ver de perto o protagonismo das pessoas com necessidades específicas no Estado do Rio de Janeiro, Brasil e mundo. Valeu muito a pena ver o teatro lotado, o feedback que recebemos, provando que juntos, sempre somos mais fortes, e que podemos, através da educação, transformar vidas, melhorar como pessoas, fazer de nossas casas, escolas, universidades e Estado, um lugar mais inclusivo, acolhedor, respeitoso independente da condição que apresentem”, diz a Assessora de Inclusão da Diretoria de Educação Superior (DESUP), cuja trajetória na Faetec começou em 2003, como professora de Educação Especial.

Verônica trabalhou no CAEP Favo de Mel por 18 anos. A escola, que em 2023 foi premiada pelos resultados atingidos no segmento da educação, hoje está sob a gestão de Márcia Macedo. Segundo a educadora, um dos maiores desafios para avançar no processo de inclusão das pessoas com deficiência intelectual no mercado de trabalho, é conscientizar também os familiares, sobre as potencialidades deste público.

“Nosso trabalho precisa também ser o de conscientização dos pais e responsáveis por estas pessoas cujas potencialidades precisam ser desenvolvidas e este processo começa aqui na Favo de Mel, onde o aluno aprende a ter mais autonomia e segurança para desempenhar suas funções. Temos vários estudantes da escola que hoje são estagiários da Faetec e, quando estão preparados, encaminhamos para estágios que, posteriormente podem se tornar vagas de emprego dentro de empresas que estão preparadas também para recebê-los. Nós temos relatos extremamente positivos de parceiros que acolhem estes alunos, os quais acompanhamos durante todo o período de estágio”, diz Márcia.

Ao longo do Seminário, falas importantes como a de Pedro Petrucio, pessoa com Síndrome de Down, produtor audiovisual e guia de turismo, e a de Xawdre, escritor, artista, cosplayer e autista, mostraram a relevância do evento para toda a comunidade educacional.

“Diagnóstico não é destino. Recebi meu diagnóstico depois de sofrer muito bullying na escola porque eu tenho dificuldade de interação. Comecei a escrever, a fazer o cosplay e fui trabalhando melhor a minha autoestima. A partir de então, parei de ficar olhando para as minhas deficiências e eu comecei a enxergar as minhas eficiências”, diz ele, que hoje dá palestras sobre o tema.

Dentro da programação do Seminário, a apresentação dos alunos do CAEP Favo de Mel e do casal de mestre-sala e porta-bandeira do projeto Somos Todos Especiais, com o pavilhão da Caprichosos de Pilares, mostrou o samba como forma de inclusão.